sexta-feira, dezembro 01, 2006

'PÁRA-ARRANCA' PARA VER A MAIOR ÁRVORE DE NATAL DA EUROPA

engarrafamento. Na Praça do Comércio, todos abrandam para contemplar a maior árvore de Natal da Europa, e as filas vão-se acumulando até ao Marquês de Pombal

in Diário de Notícias por Vera Nobre e Gonçalo Santos

A maior árvore de Natal da Europa foi instalada na Praça do Comércio, provocando um forte impacto na Baixa lisboeta. O trânsito congestionado revela que tem tido milhares de visitantes diários - o DN foi falar com famílias que visitam o local e avaliar os seus efeitos no comércio tradicional. E revelamos o que se esconde atrás da árvore o marketing do banco Millenium BCP, que já teve resposta do concorrente BES, através do pequeno "nevão" no Marquês. "Estivemos muito tempo nas filas mas valeu a pena. Como não temos árvore de Natal em casa, ficamos com esta na recordação"

Na Praça do Comércio, todos abrandam para contemplar a maior árvore de Natal da Europa, e as filas vão-se acumulando até ao Marquês de Pombal
Às bolas brancas que iluminam as árvores ao longo da Avenida da Liberdade juntam-se centenas de pequenos faróis vermelhos. Não são novas decorações de Natal - são os carros parados em filas intermináveis em direcção à Baixa lisboeta. Os automóveis avançam de forma intermitente, envolvidos num fenómeno de trânsito que só parece existir desde que, no passado dia 19 de Novembro, as luzes da maior árvore de Natal da Europa se acenderam na Praça do Comércio. Para o comissário Domingues, da Divisão de Trânsito de Lisboa, a explicação para esta anomalia é muito simples "A zona da Baixa é gerida pelo programa informático Gertrudes, que está preparado para, à tarde, deixar sair mais trânsito do que entrar- tal como acontece no sentido inverso à hora de ponta de manhã, quando entram mais carros do que saem da capital. Só que agora, da parte da tarde, vêm milhares de pessoas de Lisboa, arredores e mesmo de outras localidades para ver a árvore de Natal. Por causa disso, o trânsito aumentou entre 40 a 50 por cento."

engarrafamento. Laços gigantes de luzes brancas dão as boas-vindas ao Rossio. E a entrada para a Rua do Ouro, com sinos brancos e vermelhos, não parece mais animadora. O engarrafamento continua. Nos carros, enquanto uns verificam enfurecidos as horas que vão passando, outros não resistem a espreitar para ver quando surgirá a pontinha da tão esperada árvore de Natal. "Já ando em Lisboa há mais de 40 anos e nunca vi nenhum Natal assim. O trânsito tem estado uma coisa descomunal", diz indignado Domingos Borges, taxista. Para ele, a árvore do Terreiro do Paço só tem dificultado o negócio. "O cliente do táxi é um cliente tipicamente apressado. E com estas filas fora do normal, queixam-se muito." Aos votos de boas festas com que se despede, Domingos acrescenta um conselho para o presidente da Câmara de Lisboa- "Devia proibir o trânsito aqui. Contaram-me que em muitas cidades da Europa só se pode andar de transportes públicos. E também não percebo como é que se queixam da crise, afinal para a gasolina parece que há sempre dinheiro."A chegada à Praça do Comércio só acontece passado mais algum tempo e, parados nos sinais, os olhares de crianças, adultos ou velhotes não resistem a ficar presos naquele espectáculo. "Está linda de morrer", diz emocionada Manuela Afonso de máquina fotográfica na mão. Veio de Alcochete de propósito para ver a maior árvore de Natal da Europa porque, "na televisão, não é a mesma coisa." As filhas, Catarina e Inês, de 14 e 11 anos, estão no carro por causa do frio mas os sorrisos não enganam. "Estivemos muito tempo nas filas mas valeu a pena. Como não temos árvore de Natal em casa, ficamos com esta na recordação", confessa Catarina. "Mas agora temos de ir andando, senão levamos uma multa", despede-se a mãe.polícia. Um dos cinco agentes da Brigada de Trânsito destacados para estar no Terreiro do Paço, das 17.00 até a árvore se apagar, é Adelino Silva. "Não estamos aqui para multar os carros, mas para controlar um bocadinho as pessoas que param em segunda fila e perturbam a circulação do trânsito." Diz que não tem sido tarefa fácil, mas gosta muito de ali estar. "É muito bonito ver como as pessoas gostam. As crianças, então, chegam a ficar tão excitadas que atravessam a estrada sem sequer olhar. Mas nunca aconteceu nada de grave."Nem deve ter metro e meio e esforça-se para ver a estrela no topo da árvore de Natal. "É tão grande que não consigo. Nunca vi nada tão grande na minha vida", diz fascinado Wilson Mendes, de seis anos. Veio com a mãe e duas tias e dali de tão perto a árvore ainda lhe parece mais bonita. "Quero mais fotografias para mostrar à professora", pede à mãe que, com o telemóvel, vai fotografando o filho sorridente. Chega mais um carro que pára num local proibido para admirar a árvore de Natal. É a família Vasconcelos e Sá - o marido, a mulher, a filha, e até a sogra. "É maior do que a do ano passado não é?", pergunta Miguel Vasconcelos e Sá. "Não me parece, mas o que interessa é que está muito gira", responde a sogra do banco de trás do carro. Satisfeita, a família segue o seu caminho. Aqueles poucos minutos ali parada, a contemplar a imensa estrutura, compensaram os três quartos de hora que gastaram da rotunda do Marquês de Pombal ao Terreiro do Paço. Dois quilómetros a passo de caracol, para chegar à árvore iluminada.

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