sexta-feira, março 21, 2008

CAPELA DE ALFAMA INUNDADA POR ESGOTOS SEMPRE QUE CHOVE

Publicado no DN, por Kátia Catulo e Pedro Saraiva

 

Cada vez que chove, os moradores de Alfama, em Lisboa, temem que a capela do bairro fique inundada com a água dos esgotos. "Desde Novembro que é isso que acontece porque as obras de saneamento no Largo do Chafariz de Dentro estão paradas", adverte Lurdes Pinheiro, presidente da Junta de Santo Estêvão. Os trabalhos de substituição do colector da Rua da Regueira começaram em finais do ano passado, mas tiveram de ser interrompidos porque as retroescavadoras puseram a descoberto parte da muralha fernandina.

O achado arqueológico provocou a suspensão das obras e estas só poderão recomeçar com a autorização do IGESPAR - Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico: "O problema é que, enquanto estamos à espera do parecer deste instituto, vamos continuar a ter uma enorme cratera no Largo do Chafariz de Dentro e inundações dentro da Capela da Nossa Senhora dos Remédios", critica a autarca.

Só este ano, as chuvas já provocaram por duas vezes o abatimento da Rua dos Remédios. Nos dias 18 e 25 de Fevereiro, a força das correntes fez saltar as tampas dos esgotos e destruiu parte daquela artéria: "A água desce da zona do castelo e ao chegar à Rua dos Remédios não tem por onde ir porque o colector ainda não foi colocado." O único canal por onde a água pode escoar é portanto pela capela mortuária de Alfama.

Lurdes Alves vive em Alfama, e, na madrugada de 18 de Fevereiro, encontrava-se dentro da igreja quando foi surpreendida pela enxurrada: "Estava no velório de um primo meu, quando a água entrou como uma cascata pelas fendas das portas", contou a pensionista de 79 anos. A primeira coisa que os familiares de Lurdes fizeram foi pôr a urna mortuária num local fora do alcance da água e de seguida chamar o Regimento de Sapadores de Lisboa.

Nos dias seguintes, os funcionários da junta de freguesia retiraram as alcatifas e as carpetes da capela e lavaram-nas no lavadouro público de Alfama, mas os esforços foram em vão. "Uma semana depois da primeira inundação, veio uma nova chuvada que fez os mesmos estragos", desabafa a autarca. Lurdes Pinheiro diz que a muralha fernandina terá mesmo de ser destruída para dar passagem ao colector dos esgotos porque é a única alternativa que resta: "Se o parecer do IGESPAR for negativo, ficaremos sem rede de saneamento."

Inicialmente, previa-se que o colector passasse ao lado dos edifícios do Largo de Chafariz de Dentro para evitar a destruição da muralha. Mas uma avaliação técnica da câmara concluiu que o edificado daquela zona poderia não resistir aos trabalhos subterrâneos. "Foi preciso refazer o projecto e apresentar outra solução, que implica a destruição dos achados arqueológicos", explica a autarca

 

 

 

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