domingo, setembro 28, 2008

ZONA HISTÓRICA AINDA É PROBLEMA GRAVE, APESAR DAS MUDANÇAS

A zona histórica de Lisboa, com difíceis acessos e prédios degradados, permanece hoje um «problema grave» para os bombeiros, mas o incêndio do Chiado, há 20 anos, serviu também de lição para as corporações, que desde então passaram por «grandes transformações»
Publicado por Lusa/ Sol, 20-08-2008

«A cidade continua a configurar situações de risco, sendo a zona histórica a mais grave, em termos de acessos, estacionamento e devido ao número elevado de prédios antigos e sem manutenção corrente», disse à Lusa o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira. Opinião partilhada pelo presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, Fernando Curto, que salientou à Lusa o «esforço manual» usado na retirada de carros a que é necessário recorrer para que os elementos consigam circular em algumas ruas.

Mas nem tudo é mau. «Em vinte anos aprendeu-se muito, sobretudo técnicas de combate a incêndios urbanos, e houve grandes transformações nos bombeiros, a nível da formação do pessoal e dos equipamentos disponíveis», lembrou Duarte Caldeira. Fernando Curto frisou «o trabalho grande no campo da prevenção», mas fez questão de lembrar que «a perda de habitantes nos últimos anos é uma lacuna», porque «uma cidade habitada ajuda a uma intervenção rápida». Apesar de, vinte anos depois do incêndio do Chiado, «haver um melhor conhecimento e planeamento da cidade», Fernando Curto alerta para o facto de ainda se encontrarem «armazéns pejados de materiais susceptíveis de risco» e refere que «o aeroporto na cidade é um 'handicap' para que esta não seja segura».

O presidente da Junta de Freguesia de São Nicolau (Baixa) partilha a preocupação em relação ao perigo que representam os andares que servem de armazéns.
«A junta vai propor aos Sapadores que verifiquem no terreno situações deste tipo, que possam causar perigosidade. É necessário prevenir», disse à Lusa António Manuel.
Numa das freguesias de Alfama, um dos bairros do centro histórico de Lisboa, os «armazéns», acessos difíceis e edifícios em mau estado já estão assinalados num plano de emergência local.

A Junta de Freguesia de Santo Estêvão elaborou recentemente, com a ajuda de um grupo de voluntários e em conjunto com a Protecção Civil, o documento «para saber como reagir no caso de algo acontecer». «Foi feito um levantamento do que se passa na freguesia. Os prédios velhos e em más condições, as ruas estreitas e em mau estado, os problemas com entrada e saída de viaturas, as casas onde habitam idosos sozinhos e pessoas acamadas, tudo isso está assinalado no plano», disse à Lusa a presidente da junta, Lurdes Pinheiro.
«Somos os primeiros a estar no terreno. Preparamos as pessoas para o primeiro impacto e depois passamos a pasta aos bombeiros», acrescentou «O ideal seria não acontecer nada, mas no caso de acontecer estamos preparados», afirmou.

Apesar de tudo, o presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais acha «difícil» haver outro incêndio em Lisboa com a «grandiosidade e proporções» do fogo do Chiado de 25 de Agosto de 1988. «Hoje em dia todos os edifícios possuem extintores e têm auto-protecção, há mais vistorias - embora não tantas como gostaríamos - e houve uma melhoria substancial a nível legislativo», referiu. Fernando Curto defende que «de maneira geral houve reorganização e intervenção» desde 1988. «Há males que vêm por bem», disse.

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