sexta-feira, fevereiro 29, 2008

EM 2008 AINDA SE LAVA ROUPA À MÃO FORA DE CASA

Publicado por Lusa/ Sol

Em Lisboa ainda há quem saia de casa com uma trouxa de roupa suja para lavar nos tanques dos lavadouros públicos que resistem em certas zonas da cidade, como na freguesia de Carnide

«O lavadouro tem ainda hoje uma vertente social. Ainda há uma ou outra situação de pessoas que vêm aqui porque não têm água em casa», contou à Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Carnide Paulo Quaresma.Segundo o autarca, há dias em que aparecem no lavadouro público de Carnide, situado na Estrada da Correia, cerca de dez pessoas para lavarem roupa nos tanques, na sua maioria idosos, habitantes dos bairros da freguesia, como o centro histórico, o Bairro Padre Cruz ou a Horta Nova.Também há quem aproveite a ida ao lavadouro para conviver. «O local serve também de ponto de encontro. As pessoas trazem uma ou outra peça para lavar e depois acabam por ficar à conversa com quem encontram por cá», contou Paulo Quaresma à Lusa. O mesmo acontece no lavadouro da Rua dos Corvos, na zona de Alfama. «Acaba por se transformar num local de convívio. É uma forma de os utilizadores, na sua maioria idosos, fugirem à solidão», disse a presidente da Junta de Santo Estêvão, Lurdes Pinheiro, à Lusa. A autarca contou ainda que a média de «visitas» semanal ao espaço na Rua dos Corvos é de 15 a 20 pessoas. Ali os tanques são mais utilizados para lavar peças de roupa grandes, como tapetes ou colchas, ou para lavar roupa para fora.Este lavadouro de Alfama tem também a vertente de lavandaria social, projecto que a Junta de Carnide já apresentou à Câmara Municipal de Lisboa e sobre o qual aguarda uma decisão. A lavandaria social é direccionada para pessoas com fracos recursos económicos e prevê a colocação de máquinas de lavar e secar roupa no mesmo espaço onde existem os tanques. Em Alfama, os habitantes deixam a roupa a uma funcionária, que a vai colocando nas máquinas para lavar. Já em Carnide não há funcionários afectos ao lavadouro. «O funcionamento deste equipamento é um trabalho comunitário. O lavadouro está situado ao lado do Centro Paroquial de Carnide, são eles que têm a chave, abrem a porta e fazem limpeza do espaço. Depois a junta transfere verbas e articula trabalho com o Centro», explicou à Lusa Paulo Quaresma. Os lavadouros públicos de Lisboa são todos municipais, mas são as juntas de freguesia que fazem a gestão destes espaços, através de um protocolo de gestão de competências. Na zona de Alfama há ainda um outro lavadouro a cargo da Junta de Santo Estêvão, mas que está fechado há três anos para obras.«Contamos reabrir em Março o lavadouro do Beco do Mexias que esteve fechado para obras de recuperação, devido ao rebentamento de um recoletor», disse à Lusa Lurdes Pinheiro. A remodelação ficou a cargo da autarquia lisboeta. Os lavadouros têm ainda outra função: quer o de Carnide quer o da Rua dos Corvos, em Alfama, são palco de iniciativas culturais, mais ou menos regulares. Desde Setembro de 2007, em Carnide, há «cultura de sabão». Exposições, concertos, poesia e até teatro promovidos por uma associação local, com o apoio da Junta.«Gostávamos muito de ocupar ainda mais o lavadouro. Conseguimos que tenha esta ocupação uma noite por mês, mas estamos abertos a que possa ir além de apenas um dia», disse Paulo Quaresma. «Já cedemos o espaço a grupos de teatro amadores para que mostrem o seu trabalho. É uma forma de apoiarmos os grupos de jovens da zona», afirmou Lurdes Pinheiro. O da Estrada da Correia, situado bem perto da estação de metro de Carnide funciona de segunda a sexta-feira entre as 08h30 e as 18h30, já o lavadouro e lavandaria social da Rua dos Corvos, em Alfama, está aberto entre as 09h00 e as 12h00 e as 14h00 e as 18h00, apenas nos dias úteis.

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