quinta-feira, outubro 12, 2006

ACESSOS AO CASTELO DE SÃO JORGE

Portugal é o 3º país da Europa com maior número de carros por 1000 habitantes. O primeiro lugar é ocupado pelo Luxemburgo onde curiosamente 40% da população é de origem ... Portuguesa. A zona histórica da cidade não tem capacidade de receber a quantidade de carros que invade o centro de Lisboa por isso o condicionamento é inevitável.

Geralmente os que se opõe são sempre os mesmos, habitualmente com o argumento novo-rico de que todos devem ter direito de estacionar o carro à porta de casa. Se levarmos ao extremo esta questão poderemos perguntar-nos:
- E se todos decidirem comprar camiões TIR como é que faremos?
- Será que não poderemos arrasar os passeios e arrancar as poucas árvores que ainda existem?

A questão é que o facto de termos dinheiro para comprar carros não implica que tenhamos o direito de os estacionar em prejuízo dos outros e do espaço público, chama-se a isso Civismo. Numa zona onde quase 80% dos habitantes e comerciantes infelizmente não concluiram o ensino escolar obrigatório e entre os quais cerca de 16% são analfabetos é uma causa difícil que só com o tempo criará raizes nomeadamente quando a médio prazo se começarem a notar os benefícios óbvios destas medidas nomeadamente com a requalificação do comércio local e uma fiscalização adequada.

  • Transito condicionado

  • Condicionamento ao trânsito indigna comerciantes


  • Acessos ao Castelo condicionados congestionam vias envolventes
    Por Marina Almeida

    "O tempo que isto leva", comentam dois residentes que ontem observavam a nova azáfama gerada pelo condicionamento dos acessos de automóvel à zona do Castelo. Cada condutor que fazia assomar a sua viatura à Rua de Santiago, no acesso ao Largo do Contador-Mor, era recebido por dois funcionários da EMEL. Questionado do motivo da visita, recebia informação sobre as novas regras de circulação na zona e, finalmente, recolhia o pilarete. Entretanto, a fila de carros estendera-se já Rua do Limoeiro abaixo - com um polícia a orientar a confusão.

    Ontem passaram todos. Os que iam buscar ou levar alguma encomenda, o que ia buscar o pai "que é idoso". Vigora ainda aquilo que uma das funcionárias da EMEL no local definiu como "período de teste". Depois vai ser "a sério", com a passagem a ser vedada a quem não cumpra os requisitos.

    Há regras para aceder às ruas que bordejam o Castelo de São Jorge. Os residentes foram informados das mesmas em reuniões com responsáveis da empresa municipal de estacionamento. Cargas e descargas são permitidas de segunda a sábado das 8.00 às 11.00 e das 15.00 às 17.00, os carros de profissionais liberais e comerciantes (com actividade na zona) podem permanecer 90 minutos por dia, transportes públicos têm meia-hora para cada entrada - o mesmo que pessoas portadoras de deficiência e mobilidade reduzida.

    Os residentes têm acesso 24 horas por dia e dispõem de um identificador, gratuito. "As visitas de netos e filhos - que esta é uma zona de população muito idosa - foram salvaguardadas. É possível fazer um almoço de família e entrarem os carros dos familiares, basta que o residente informe a junta das respectivas matrículas aí dois dias antes. Depois, a junta informa a EMEL e quando o familiar chegar à cancela, já existe o registo", explica Mário Ramos, tesoureiro da Junta de Freguesia de Santiago.

    A EMEL recebeu mais de 500 pedidos de identificadores.

    Passaram poucas horas desde o corte de trânsito [que começou a funcionar às 20.00 de segunda-feira] e Mário Ramos já sente a calma no Largo do Contador Mor. "Está muito tranquilo. O que se passava aqui é que as pessoas trabalham na baixa estacionavam às sete da manhã, só tiravam os carros à noite e entupiam isto tudo. Às vezes nem as ambulâncias passavam", relata. "Na Rua da Saudade então, o passeio nem existia!"

    A ideia é partilhada por outros rostos familiares do local. Maria Deolinda Leonardo, proprietária da tabacaria do largo, abre o sorriso. "Estou plenamente de acordo, é bom para os comerciantes e para os residentes. Fui entrevistada há dois anos e disse isso e digo-lhe agora outra vez." Já Dulce Varela Almeida, que há 64 anos mora no prédio da Fundação Ricardo Espírito Santo ("ainda antes da fundação lá estar!"), aponta o facto de, no Largo das Portas do Sol, não estar salvaguardado estacionamento para os nove inquilinos que lá moram. Esta residente, que saiu do 37 muito antes da paragem porque o autocarro não andava "nem para trás nem para a frente", diz que no referido largo até estão carros à venda, "com prospectos nos vidros, parece um stand".

    Jorge Silveira, empregado do restaurante Comidas de Santiago, tem agora que deixar o carro na Graça e receia os assaltos. Diz que "não havia confusão nenhuma, isto foi mais uma forma de ganhar dinheiro".

    Um taxista, à espera, desabafa com a cliente: "O tempo que demoram a abrir isto! Parece que gozam com as pessoas, no Bairro Alto chegamos a estar cinco minutos à espera!" A dois passos, a senhora do número dois da Rua de Santiago, paredes meias com o pilarete, desabafa, olhando o trânsito e estendendo a colcha: "Granda procissão!"

  • Relatório e Contas de 2004 da EGEAC
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